quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Templo do livro em xeque

Discussões iniciais sobre o artigo "Templo do livro, modelo em xeque" (http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,templo-do-livro-modelo-em-xeque,1000324,0.htm)

  • Ricardo, esse seu diagnóstico é similar ao meu. 
    O grande problema é que nem nós profissionais temos dado a devida atenção ou discutido suficiente as questões ligadas à mediação. Deixamos essa discussão para os professores e educadores, e nos contentamos com atividades que passamos a considerar como mediação, apesar de serem apenas um ponto entre as várias atividades mediativas: as atividades culturais, como rodas de leitura, contação de histórias, oficinas, cursos, e uma gama enorme de atividades hoje desenvolvidas nas bibliotecas públicas que consegue fazê-las, pois sabemos que muitas são, infelizmente, apenas repositórios de acervo velho (sim, é verdade ainda. conheço algumas bibliotecas públicas assim ainda).
    O que é deixado de lado são coisas como o próprio Serviço de Referência. Ele foi relegado nas Bibliotecas Públicas. Só vejo na literatura brasileira falar sobre isso em Bibliotecas universitárias, por exemplo.
    Além da falta de discutir o serviço de referência, pouco se fala sobre o que os americanos chamam de Reader's Advisory, que nada mais é que o serviço de indicações de leitura pelos profissionais. Coisas que aparentemente tem a ver com as políticas de desenvolvimento de coleções, políticas que alias, são impostas nas Bibliotecas Públicas: seja pelo bibliotecário chefe ou pela total falta de recursos orçamentários para aquisição de livros (infelizmente, esses programas de compras de livros sempre vem com tudo escolhido, sem levar em consideração à comunidade de cada biblioteca).
    Outra questão é: quem está mediando o acervo e o acesso à informação nas bibliotecas? Infelizmente, eu particularmente acho que há poucos bibliotecários no atendimento ao público. Por motivos vários que aqui não dá para elencar, há falta desse profissional à frente. À presença do profissional à frente faz a diferença! E muita, pois temos as técnicas para melhor buscar a informação, algo que até o mais bem treinado auxiliar ou outro profissional de nível superior não tem à disposição. Mas ficamos pelos gabinetes ou fazendo memorandos pedindo manutenção de banheiros, etc, etc.
    Vale lembrar que o que exponho não acontece em todo lugar. Um exemplo de coisa diferente aconteceu aqui na prefeitura de SP, e eu participei, na gestão da Marta, onde foram realizados diversos cursos de mediação: mediação de leitura adulta, infantil, mediação de obras de referência, mediação de contos, de poesia, de crônicas. Foi sensacional! Pena que o governo acabou, faltava pessoal, e tudo, aos poucos, foi voltando ao normal (anormal) nos últimos anos.... 
    Vixe, me empolguei!
  • Alexandre Nogueira Paixão Algumas discussões, que acabam criando certas tendências sempre me preocupam. A primeira delas é quando elementos agrupados de forma didática, que servem apenas para facilitar a compreensão, acabam por se converter em um instrumento que deforma e reduz a complexidade de uma situação. A matéria acima reproduz isso de forma "didática": Facilitar o acesso aos livros seria o primeiro objetivo a ser alcançado no Brasil; a saber, construir espaços como forma de democratizar e despertar o interesse pela leitura. A orientação da matéria vai toda por aí; bibliotecas modernas são capazes de formar leitores? Um dos depoimentos insinua que sim; o indivíduo acima de tudo. Então, depois de construirmos espaços modernos e bibliotecas por todo o Brasil; somente aí que deveremos nos preocupar com a tal da mediação? Claro que não, pois espaços "modernos" devem ter auditório, computadores, ops, e-readers ou sei lá o que... Tudo isso é importante sim, mas e o exercício da dimensão coletiva e colaborativa da leitura? A tal da mediação já está pensada na construção do espaço, ou não? Até que ponto facilitar e democratizar o acesso ao livro não é produto de uma concepção bastante específica de mediação?
  • Alexandre Nogueira Paixão Apertei o botão errado: Na minha opinião, não é a falta de discussão e dar a devida importância à mediação... mas sim discutir qual a filiação ideológica que devemos orientar este conceito ainda nebuloso e, portanto, qual é a função, a importância do espaço neste conceito e qual o papel do Estado nesta questão... e dos profissionais também, claro
  • Ricardo Queiroz Pinheiro Destaco dois pontos em comum nos comentários do William Okubo e do Alexandre Nogueira Paixão : a percepção da falta de uma clareza por parte dos profissionais envolvidos na formação de leitores (ao menos supostamente) do que é mediação de leitura e a distorção sobre a importância de fatores meio como equipamento tecnológico e estrutura física de prédios no que se refere ao serviço fim: a formação de leitores. Não cabe aqui a interpretação distorcida de que uma boa estrutura e bons equipamentos nao sao importantes, o que se deve ressaltar é que tudo isso deve estar integrado a uma política bem definida para a mediação de leitura. Deixo a pergunta como seria esta mediação? Ou melhor dizendo estas mediações?
  • Eraldo Ramos Vida de pais colonizado, capitalismo tardio, depedente, etc, etc, é fogo, quando um ciclo está se encerrando por lá, por aqui mal começamos, e já temos que dá um salto, pra onde? Nem temos a Biblioteca Classica, e já temos que construi uma que não sabemos qual é, mas vamos lá , né !
  • Dalva Franceschetti Nossa Eraldo, era o que eu iria comentar. Exatamente o que penso.
  • William Okubo Respondendo sua pergunta, Ricardo, creio que esta mediação deveria se basear nos conhecimentos vários existentes: mediação de leitura literária, mediação da informação em geral (responder perguntas do tipo: aonde nasceu o astronauta brasileiro? qual o número de habitantes desta cidade? quem foi o cara que deu nome a essa rua? quais alimentos indicados para quem está com colesterol alto? etc). 
    Ou seja, deveríamos nos preocupar em colocar o acervo para atender as demandas das pessoas. Isso inclusive vai nos mostrar se o acervo é relevante ou não.
    Há tanta coisa para mediar.... mediar Música ou Filmes é algo divertido que vejo que não acontece, no máximo, a pessoa gosta do filme de Pernas pro ar, e perdemos a chance de indicar uma comédia erótica de nível um pouco melhor, ou igual mesmo que seja.... nem isso fazemos direito.
    Bah... viajei, meus caros!
  • Ricardo Queiroz Pinheiro O poeta Sérgio Mitre e outro que poderia contribuir, quem mais?
    Terça às 10:08 via celular · Curtir · 1
  • Sérgio Mitre Agradecido pela lembrança, penso que as bibliotecas devem oferecer sim uma mediação mais interessante, sobretudo aos pequenos e potenciais leitores (mas não só a eles). Na biblioteca pública aqui em BH, que frequento muito, a infanto-juvenil faz todo sábado a hora do conto e leitura, onde há contação de histórias e/ou leitura conjunta, o que torna o ato de ler uma diversão. Um pai me contou certa vez q o filho dele pediu pra ir à biblioteca no sábado de manhã - ou seja, é tão divertido pra ele qto ir ao parque e/ou ao shopping (UFA)...
  • Sérgio Mitre Trabalho muito em bibliotecas e penso que elas são realmente "orgânicas", pois refletem uma realidade cultural e educacional da cidade, do contexto ou do ambiente onde estão inseridas. As bibliotecas ganhariam muito se integrassem as noções da nova museologia, por exemplo, onde o grande valor para a instituição é o público, suas demandas e desejos, muito mais que as peças em exposição - no caso das bibliotecas, essa integração entre espaço, leitura e conhecimento (e diversão tb, pq não?) é mais importante que os próprios livros ou o número de coleções.
  • Joaci Pereira Furtado Ao meu ver, a única saída para o impasse que as novas tecnologias impõem ao futuro das bibliotecas -- e, por consequência, à profissão de bibliotecário -- é exatamente a mediação cultural, tema que tanto inquieta o nosso amigo Ricardo Queiroz Pinheiro. Mas ela deve ser bastante pensada para não cairmos na ilusão de que basta um bibliotecário descolado, "divertido", jovial, "antenado", que se servirá de mil penduricalhos para atrair leitores. Mais que mediador, talvez ele possa ser um agente ou promotor cultural, já que mediação pressupõe atitude passiva, de elo, de vínculo, de ponte, de passagem, enfim, de meio. A leitura pode ser um fim em si mesmo, não? E o bibliotecário pode ser um educador, nesse sentido, demonstrando que não há necessariamente finalidades pragmáticas no deleite da leitura (seja que em suporte for, material ou virtual, escrito, pictográfico, audiovisual...). O que justifica o prazer se não ele mesmo? Daí a importância da formação teórica desse profissional, o que deve incluir bastante filosofia (da ciência), história, teoria da literatura, pedagogia, sociologia e antropologia, além de conhecer bem o intricado funcionamento das políticas públicas para a cultura.
  • Sérgio Mitre Na museologia diz-se que não se trata de história mas, sim, de antropologia histórica. Neste cso acima, pode-se pensar numa antropologia literária...?
  • Alexandre Nogueira Paixão Eraldo Ramos colocou uma questão que a tal matéria acaba pro reproduzir: Primeiro que estamos destinados ao atraso com relação aos acontecimentos nos países centrais; agravando isto temos o discurso da globalização, que torna o mundo menor e com efeito...Veja mais
  • Joaci Pereira Furtado Sérgio Mitre, não entendi bem a questão sobre "antropologia histórica" e "literária". Quanto à "mediação", penso apenas que é preciso tomar cuidado com as palavras porque elas implicam certos significados -- e o risco de inadvertidamente aderirmos a el...Veja mais
  • Eraldo Ramos Vez em quando me vem algumas pertubações à mente. Agora mesmo comecei a pensar como seria uma Biblioteca Pública com o minimo que de modernização( com todas as incertezas desse conceiro) funcionando dentro de um shopping.
  • Ricardo Queiroz Pinheiro Joaci Pereira Furtado toca numa questão fundamental: a escola. E assim volto a um ponto recorrente nas discussões sobre política cultural, a relação com a área de educação. Num mundo ideal as áreas cultura e educacional se complementariam e se relacionariam, inclusive considerando as tensões, de uma maneira ao menos objetiva, a realidade é outra. Tanto do ponto de vista da gestão, como da concepção, educação e cultura vivem em constante atrito. Esta incapacidade de adentrar e tentar entender o universo do "outro" cria uma rivalidade entre as áreas. Algumas iniciativas conseguem ultrapassar esta barreira e aponta caminhos para construção do "leitor". O assustador termo "construçao" cabe até por conta desse conflito permanente, acaba sendo um avanço.